Primeiro pensamento quando acordei no dia da prova e ouvi a chuva: meto-me em cada uma! Os alertas de temporal pediam um domingo de sofá e ronha, mas já estava tudo combinado e tinha mesmo de ser. Chego a Covas de Ferro antes das 8:00 e começo a encontrar caras conhecidas. Ritual de distribuição de dorsais, ajustar equipamento, último xixi, última banana, último beijinho e lá vamos nós. Nos primeiros metros ainda vou a lembrar algumas palavras do pessoal mais batido:"vais com esses ténis?vais escorregar!" Mas era a primeira corrida do género e não quis investir em equipamento específico. Por isso parti com uns ténis de estrada velhinhos, quase sem rasto e um impermeável emprestado não sei quantos números acima do meu.
Partiu um grupo compacto em que mal dava para ver onde punha o pé seguinte mas que me permitiu observar a "técnica" e a escolha de percurso dos restantes atletas. Lama, pedras, chuva, vento, frio... E eu a adorar cada passo. Correr assim é tão diferente de correr em estrada! A cabeça vai ocupada a escolher a próxima passada e distrai-se do cansaço das pernas e da respiração. Chego à primeira descida a sério e percebo o que me diziam: com os meus ténis a lama parece manteiga e o trilho uma pista de patinagem. Abrando. Vou a medo, a apalpar terreno. Muitos atletas passam por mim a voar, mas não tenho coragem de arriscar uma queda. Faço a prova "ao contrário" corro nas subidas, ando nas descidas. Engraçado porque acabo por me cruzar várias vezes com os mesmos atletas:eles voam por mim nas descidas, eu arrasto-me passando por eles nas subidas.
O ambiente é descontraído. Dá para trocar umas palavras de incentivo, ter alguém a quem me queixar da minha má escolha.
Primeiro abastecimento:água e fruta (mesmo o que precisava!), segundo "abastecimento": ginjinha em copo de chocolate (eh lá! com esta não contava!). Passo pela placa dos 15 km e tenho um segundo de desespero: enganei-me no caminho! segui para os 25 km! O que tem de ser tem de ser e lá me mentalizei para mais 10 km em que a chuva nos olhos mal me deixava ver a estrada. Mas afinal... ali estava ela, a chegada, para lá dos 16,5 km. Abrandei para me colar a um atleta porque o meu sentido de orientação estava a falhar por completo. Trocámos um "está quase" e entrámos um atrás do outro no pavilhão. "Parabéns! És a quarta mulher!" "Eu???" Decididamente sou perseguida pela sorte de principiante. Banho, roupa quente, a banana da praxe, uma sopa quentinha maravilhosa e estou nova. Nada de bolhas, nada de dores musculares. Fiquei a ver as chegadas e arrependi-me amargamente de não ter tentado os 25 km.
Balanço: dificilmente podia ter escolhido melhor prova de estreia. A organização dos Montes Saloios foi exemplar e o caminho de uma beleza incrível. A repetir sem dúvida.
P.S. - Não me enganam mais, já tenho os meus ténis de trail.
1 comentário:
Muito bem! :)
Um dia talvez ganhe coragem de fazer uma coisa dessas! :)
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